São Ruperto era descendente duma nobre família, muito distinta entre os Francos. Referem dele vários autores que sobressaiu sobremaneira em toda a espécie de virtudes naturais e morais, bondade, doçura, retidão, prudência e amor à justiça. Não brilharam menos as virtudes cristãs: humildade, castidade, piedade, mortificação e grande espírito de oração.
E a tal ponto sobressaía o seu exemplo que todos o consideravam digno dos mais altos cargos eclesiásticos. Tanto assim foi que, apesar da sua humilde resistência, ao ficar vaga a Sé de Worms, todos os eleitores concordaram em promovê-lo àquela cátedra.
Ruperto entregou o assunto ao Senhor. Viu nisso a sua vontade, que se manifestava através de diversas circunstâncias, e aceitou. A dignidade episcopal não o eximiu da antiga austeridade de vida. Pelo contrário, ao ver que a idolatria e o paganismo abundavam tanto na sua cidade, sentiu-se ainda mais obrigado a entregar-se a jejuns, mortificações, vigílias e penitências. Isto e o exemplo das suas virtudes era o melhor apoio à sua pregação e zelo apostólico em favor daquelas almas e de outras que a divina Providência lhe iria confiar em breve.
De toda a parte acudiam a ouvi-lo e a pedir-lhe conselho. Era um oráculo para todos os homens de bem. Mas os infiéis de Worms, que eram muito numerosos, apoiados pelo conde Berçário, fazendo ouvidos de mercador e sem querer ver o exemplo das suas virtudes, voltaram-se contra ele, ultrajaram-no, açoitaram-no e expulsaram-no. Dois anos andou errante, longe do seu rebanho. Aproveitou para visitar Roma e avistar-se com o Papa.
Teodão, duque da Baviera, que tinha ouvido falar das muitas virtudes de Ruperto, mandou emissários para lhe pedir que viesse pregar o Evangelho nos seus Estados. Teodão saiu a recebê-lo em Ratisbona, e com tanto empenho se entregou Ruperto à pregação do Evangelho, que Teodão aceitou a nova religião e recebeu o batismo, acompanhado pelos principais da Corte e do exército, seguidos pelo povo.
Aquelas províncias tinham sido evangelizadas duzentos anos antes por São Severino, mas, pouco a pouco, tinham voltado à idolatria. O zelo e ardor de São Ruperto recuperou-as para Cristo, e estendeu a sua ação para oriente, evangelizando também a atual Áustria. A fé enraizou-se mais profundamente nestas zonas, e para a assegurar, estabeleceu a sua Sé episcopal em Salzburgo, onde transformou um antigo castelo romano em;.catedral dedicada a São Pedro. A eleição de Salzburgo para Sé episcopal foi depois confirmada por Leão III, a pedido de Carlos Magno em 798.
Para fortalecer a fé destas novas cristandade, trouxe missionários da Baviera, e com eles a sua sobrinha, Santa Erentrudes, e outras religiosas, para quem construiu o mosteiro de Nonnberg - a montanha das monjas de que Erentrudes foi exemplar abadessa.
Outras muitas doações fez Teodão a São Ruperto para bem da religião. Falecido Teodão, seu filho Teodeberto continuou a favorecer o mais que pôde, como seu pai, todas as atividades apostólicas de São Ruperto.
Finalmente ficou exausto o apóstolo da Baviera e Áustria. Tinha sacrificado a sua vida. Tinha vivido em tensão pela sua grei. Celebrou com fervor a Quaresma e foi para o Paraíso celebrar a Páscoa. Era o ano de 647.
O seu sepulcro em Salzburgo foi centro de peregrinações para a Áustria e Baviera, pelos muitos milagres que aí se operavam por sua intercessão.