23 Mar 2019
São Turíbio de Mogrovejo, Bispo (+1606)
Imagem do santo do dia

Nunca se poderá considerar suficientemente o peso da influência do Evangelho no "nascimento" da América. Por isso, mais do que falar de descobrimento ou conquista, apraz-nos falar da evangelização da América. Ainda há pouco se celebrou o V Centenário dessa evangelização, com grandiosas comemorações e festejos.

Porque junto com os capitães e aventureiros, iam sempre os evangelizadores; junto ao herói da espada, o herói da cruz. Junto a Pizarro, fundador de Lima, Toríbio de Mogrovejo, segundo arcebispo de Lima.

São Turíbio tinha nascido em Maiorga, no antigo reino de Leão, de família fidalga. Estudou em Salamanca e aos trinta anos era já inquisidor em Granada. Este título terrível, de tão amargas recordações, converte-se em suas mãos em instrumento de amor, de piedade, de salvação.

Dom João de Áustria acabava de sufocar a insurreição dos mouros. Os vencidos encontram no inquisidor um pai e protetor, demasiado suave, segundo alguns, tratando-o de encobridor e protetor da heresia. As mesmas acusações lhe serão mais tarde feitas também na América. Também aí será o protetor dos índios, de todos os desvalidos.

Aos quarenta anos foi proposto por Filipe II para arcebispo de Lima e metropolita do Perú. Mas não tinha ainda recebido as antigas ordens menores, era apenas tonsurado. Turíbio sentiu-se esmagado. Por fim, aceitou. A esperança do martírio ajudou-o a decidir-se. Não derramaria o seu sangue duma só vez, mas gota a gota, como o maior dos missionários americanos. Foi um grande missionário e um grande prelado. Segundo Justo Pérez de Urbel, resumiu na sua pessoa os traços de Carlos Borromeu e de Francisco Xavier.

Pôs-se a cumprir sem demora as tarefas que o Concílio de Trento traçou para os Bispos: sínodos, missões, criação de paróquias, reforma do clero, correção de costumes. Contraria as violências, lança severos castigos contra os culpados, e ele que era todo bondade, não duvida em prodigalizar o que se chamava "o ladrilho de Roma" ou seja a excomunhão, contra quem maltratasse os índios, contra todo aquele que faltasse à sua sagrada missão pastoral.

Diz Gheorghiu que o sacerdote tem que ter "pernas de cavalo". Turíbio precisava delas. A sua arquidiocese era tão vasta como um reino: distâncias imensas, montanhas altíssimas, populações perdidas nos Andes, rios desconhecidos... Mas não importava. Além de convocar em quatro lustros quinze sínodos e de reunir quatro vezes os Bispos da América meridional, o intrépido missionário, em dezesseis anos, percorreu quarenta mil quilômetros, chegou à última aldeia, sem caminhos e com graves perigos. Entrava nas míseras cabanas e impressionava, os índios com a sua imponente estatura e nobres gestos. Mas sobretudo atraía-os com a sua bondade. Falava-lhes de Jesus Cristo na sua língua nativa, agrupava-os em torno duma igreja e logo voltava para lhes administrar a Confirmação. São incontáveis os que confirmou, entre os quais uma jovem que, depois, viria a ser Santa Rosa de Lima.

As correrias e peripécias de Turíbio recordam-nos as de São Paulo. Contornar os rochedos, perder-se pelos bosques, cair nos rios, afundar-se em lugares cobertos de neve e em lagoas... Mais perigos havia ainda nos índios tão volúveis. Teve que sofrer injúrias e rebeldias. Vinte vezes passou sereno por entre o sibilar de flechas envenenadas. Mas nada o detinha. Se achava que podia salvar uma alma, ia até ela, mesmo com claro risco de vida.

O operário infatigável já podia agora descansar. Morreu na Quinta-feira Santa de 1606, em pleno trabalho, pedindo que lhe cantassem ao som da harpa o salmo: "Que alegria quando me disseram: vamos para a Casa do Senhor!"