22 Mar 2019
Santa Catarina de Gênova, (+1510)
Imagem do santo do dia

Santa Catarina de Gênova era da ilustre família dos Flisci, seculares rivais dos Adurni. Era muito frequente nas cidades italianas a luta até à morte de duas famílias para obter a supremacia da cidade. Até em Roma sucedia o mesmo com a tiara pontifícia no século X, o século obscuro do pontificado, entre os Túsculos e os Crescêncios. Ainda hoje continuam as famílias rivais dos mafiosos. Foi famoso o caso de Romeu e Julieta, que acabou por reconciliar Montescos e Capuletos.

O mesmo aconteceu no nosso caso. Os Flisci e os Adurni lutavam há séculos pela supremacia da cidade de Gênova. Cansados de sangue, procuraram a reconciliação, sacrificando para isso Catarina. Casaram-na aos dezesseis anos, por conveniência, sem qualquer vocação para o matrimônio.

Foi uma triste etapa da sua vida. Eram dois temperamentos muito diferentes. Catarina Flisci era doce, sensível, concentrada, piedosa. O seu marido era um Adurni duro, violento, mundano, debochado. Não se podiam entender. Ele queixava-se de que o tinham casado com uma freira; ela de que a tinham unido a um bruto. Ele sentia-se bem na política, em aventuras, em malbaratar a fortuna nos jogos. Ela, retirada em casa, mitigava a sua dor com livros piedosos.

Alguns avisaram Catarina de que ela era a culpada da situação. Que se adornasse, saísse com o seu marido e ganhá-lo-ia. Catarina deu-lhes ouvidos. Vestiu as melhores galas e começou a frequentar os salões da alta sociedade. Como era bela, graciosa e de bom talento, ganhou a simpatia de todos. O seu marido estava orgulhoso dela.

Cinco anos durou esta segunda etapa da sua vida, cinco anos que encherão de amargura o resto dos seus dias. Porque, no meio de todos aqueles saraus e veladas, Catarina não era feliz. Quando mais tarde escrever o admirável Diálogo entre o corpo e a alma, abrir-nos-á os íntimos sentimentos do seu coração. Compreendia que nada daquilo podia satisfazê-la, que só Deus podia encher o seu coração. Sentia uma dor imensa de ter ofendido a Deus. "Não sei como não morri quando vi o mal que encerra o pecado por mais leve que seja", lamenta-se inconsolável.

Em 1474, realiza-se uma nova e radical mudança na sua vida. É a terceira etapa. Estava numa igreja, quando recebeu uma súbita iluminação e sentiu uma repentina transformação, uma chama de amor, que lhe fez conceber um imenso desprezo da sua vida mundana e cortesã.

E começou uma vida de penitência, de orações inflamadas, de quaresmas inteiras passadas sem ingerir alimento a de raptos e visões, de uma vida de íntima com Deus, mas não dominada já pelo temor, mas pelo amor. "De todos os livros santos, tinha-lhe dito Jesus, escolhe uma só palavra: amor". Doravante, o coração de Catarina palpita-lhe tão violentamente que acabará por lhe romper o peito. O seu corpo torna-se incandescente. Toda ela é um vulcão que expele chispas de amor. "Mais, mais", clamava ainda.

Todos ficam maravilhados daquele sagrado torvelinho. O próprio marido torna-se um amante cristão fervoroso e cidadão honrado. A vida de Catarina respira agora mais madureza, serenidade e segurança, confiança e gozo. Apoiada plenamente em Deus, tudo, até os sofrimentos, fica assumido e transformado em amor, em gozo e serena esperança.

Até o purgatório, que ela contemplou em suas visões, será uma mescla inefável de tormento e amor, que se transforma em gozo e em júbilo, gozo que em breve se verá sublimado para ela no paraíso. Faleceu no ano de 510.