Trata-se duma festa católica, de origem claramente espanhola, conhecida na liturgia com o nome "Expectação do parto de Nossa Senhora" e, popularmente, designada como "Nossa Senhora do Ó". Os dois títulos têm praticamente o mesmo significado, referindo-se aos anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos partilhados por milhares e milhares de gerações que, desde Adão e Eva, suspiravam pela vinda do Messias Salvador, e que se recolhem no coração de Maria como no mais puro..e límpido dos espelhos.
É uma festa em honra da divina Maternidade de Maria. A festa da Encarnação do Verbo, celebrada a 25 de Março, cai sempre entre os tristes acentos da Quaresma, pelo que se torna difícil dedicar-lhe a merecida atenção devida a tão excelso mistério. A festa mais antiga dedicada a Maria foi sem dúvida a do Natal, em que se celebra o Filho e a Mãe conjuntamente. Algum tempo depois, para dar mais realce mariano, pensaram em instituir a festa de hoje. A primeira, da Encarnação, cai na Quaresma, e esta acaba por cair no Advento, que é um tempo de "esperança" no Messias que há-de vir salvar a humanidade. Os Profetas do Antigo Testamento suspiravam pela sua chegada. A liturgia ainda hoje põe na boca dos sacerdotes que rezam o breviário, as chamadas Antífonas Maiores, todas começadas pela exclamação "Ó": "Ó Sabedoria... Ó Chefe da casa de Israel... O Rebento da Raiz de Jessé... O Chave da Casa de David... O Sol Nascente... O Rei das nações e Pedra Angular da Igreja... O Emanuel..." Daqui se compreende a designação de "Nossa Senhora do Ó".
Esta festa de hoje tem sabores marcadamente espanhóis. Até ao século VII, a Igreja de Espanha celebrava apenas uma única solenidade mariana: a "Maternidade Divina" ou "Festa de Santa Maria", como era simplesmente chamada. No ano 656, reuniu o X Concílio de Toledo, onde esta questão foi tratada pelos Padres Conciliares. Três grandes Santos lhe dedicam a sua atenção: Santo Eugénio, São Frutuoso de Braga e Santo Ildefonso. Por sua influência, o Concílio determinou que "a festa mariana da Maternidade Divina se celebre no oitavo dia antes do Natal do Senhor e seja um dia celebérrimo e preclaro em honra de sua Mãe Santíssima". Este decreto fazia referência a que este dia já se celebrava em muitas outras Igrejas, mas para estar de acordo com a Igreja Romana, que o celebra a 25 de Março, que se continue a celebrar também neste dia. Desta data em diante, foi a festa mais solene em honra da Virgem Maria que se celebrava em toda a Espanha, de onde passou a outras Igrejas, nomeadamente às da América Latina:
Como já se referiu, esta festa ficou a dever-se ao X Concílio de Toledo, ilustre nos fatos da história pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, bispo bracarense, pela leitura do testamento do ínclito São Martinho de Dume e a presença simultânea dos três santos bispos já acima mencionados.