Santo Isidro Lavrador foi um santo tão humilde que não sabemos nada, nem de seus pais, nem da sua infância, nem da sua juventude. Os seus principais biógrafos são João, o Diácono, Furtado de Mendonça e Afonso de Vilhegas. Mas mais do que autênticas biografias eles apresentam-nos um catálogo de milagres, para exprimir o seu poder de intercessão diante de Deus a favor do próximo.
A sua pequena história foi assim resumida: «Pelo século XII, enquanto Espanha forjava com gloriosas façanhas a grandiosa epopeia nacional e criava uma nova civilização, um desconhecido lavrador, vizinho de Madrid - a Vila conquistada aos mouros por Afonso VI - lavrava as terras do seu amo».
Ainda se pode concretizar mais: Isidro nasce em Madrid, por volta de 1095. Casa em Torrelaguna com Maria Toríbia, de Uceda Santa Maria da Cabeça -. Têm um filho, filho do milagre e da santidade. Trabalha para lvan de Vargas em terras de Carabanchel e de Getafe, nas margens do Manzanares e do Jarama. Reza no campo, em Santo André, em Nossa Senhora de»tocha, na Almudena. «Antes de lavrar o solo, oh esperança cheia de amor na Virgem Almudena!, lavrava, piedoso, o céu».
É um santo simples, todo simplicidade, no qual não ficam bem a seriedade e a dureza das pinceladas fortes de Goya. Mas Deus derruba do trono os poderosos e enaltece os humildes, e compraz-se em revelar as suas maravilhas aos pequeninos.
Por isso, quando ninguém se lembra já do seu contemporâneo Afonso VI, Madrid continua a celebrar todos os anos com regozijo o Celeste Patrono da Vila e Corte. Padroeiro também dos lavradores e ganadeiros espanhóis. Assim o cantou o seu conterrâneo Caldeirão: «Madrid, embora teu valor estejam Reis alevantando, nunca foi maior que quando tiveste tal Lavrador». O outro grande vate madrileno, Lope, não se ficou atrás em elogios.
A sua virtude está tecida de oração, caridade e honroso trabalho. Não pretende nada de extraordinário, mas tudo faz extraordinariamente bem. Os milagres, isso sim, chovem-lhe das mãos. Deus compraz-se nisso. Parecem uma antecipação das Florinhas de S. Francisco de Assis...
«Sobem as águas do poço, para lhe restituírem o seu filho, caído no fundo. Revive o jumentinho e morrem os lobos que o amordaçaram. Multiplica-se o trigo que a sua piedade oferece aos pássaros famintos. Não se esgota a panela donde socorre os pobres. Brota a água do rochedo ao golpe da sua milagrosa aguilhada...». E o milagre mais famoso: Isidro é acusado por inveja de abandonar o trabalho para ir à missa. Ivan de Vargas quer comprová-lo vê, assombrado, como descem os anjos a arrancar as estevas, enquanto Isidro ouve missa na Almudena.
Junto à ermida do Manzanares está a fonte milagrosa. A devoção popular colocou ali estes versos simples: «Pois Santo Isidro garante! que se com fé beberes! e calor tiveres,! voltarás sem calor» (Pues San Isidro asegura que si com [e Ia bebieres e calentura tuvíeres volverás sin calentura).
No ano de 1170, silenciosamente, entregou a sua alma a Deus. O seu corpo incorrupto conserva-se na igreja de Santo André. «Oh arado, oh esteva, oh aguilhada de Santo Isidro: sois tão imortais como o canto do Cid, o báculo de Santo Isidoro, a coroa de 8. Fernando e a pena de Santa Teresa!».
O dia 12 de Maio de 1622 foi um grande dia para a Espanha: Gregório XV canonizava com 5. Isidro, mais três espanhóis, lnácio de Loiola, Francisco Xavier e Teresa de Jesus. Tão glorioso acontecimento não seria superado até 29 de Março de 1987, dia em que seriam beatificados cinco espanhóis.