07 Mai 2021
Santa Flavia Domitila
Imagem do santo do dia

Nos santos antigos nem sempre é fácil distinguir a história da lenda. Com frequência são narrações, com um fundo histórico, que depressa se adornam com elementos literários para tornar a história mais agradável e edificante. Estas narrações, em que se inspira também a novela Fabiola, insistem mais no espírito do que na história, algo que nos recorda o clima sagrado que dará origem às Florinhas de São Francisco.

É o caso de Santa Flávia Domitila. Depois da perseguição de Nero contra os cristãos, a Igreja viveu uma temporada de paz com os imperadores Galba, Otão, Vitélio e os primeiros Flávios, Vespasiano e Tito. Sob este vento favorável, prosperou a conversão ao cristianismo de muitas pessoas das classes altas e da aristocracia romana. Entre as famílias consulares que abraçaram o cristianismo estavam os Flávios, estreitamente aparentados dos imperadores.

Flávia Domitila converteu-se juntamente com o seu esposo. O cônsul Flávio Clemente, sobrinho de Vespasíano e primo direito de Tifo e Domiciano, os dois filhos de Flávia, discípulos de Quintiliano, sucederiam a Tifo e Domiciano, que não tinham filhos. Assim teria sido, se não tivesse ocorrido a crueldade de Domiciano, comparada por Tertuliano à de Nero.

Assustado o receoso Domiciano com o número e a força que os cristãos iam alcançar, sob pretexto de ateísmo, condenou à morte todos os cristãos. Flávia Domitila, mulher do cônsul Flávio Clemente e sobrinha do próprio Domiciano, foi desterrada para a ilha de Pandataria, em atenção à sua dignidade de membro da família imperial, e ali morreu.

Segundo alguns documentos antigos, teria havido uma segunda Flávia Domitila, virgem, sobrinha de Flávio Clemente, desterrada também, por ser cristã. Parece que se trata de um duplicado lendário.

Segundo a lenda, a virgem Domitila, prometida de um jovem pagão, chamado Aureliano, tinha como escravos Nereu e Aquiles, convertidos pelo apóstolo São Pedro. Estes escravos, no seu zelo extremado de protegerem a jovem senhora, empenham-se em fazer-lhe ver a supremacia da virgindade sobre o matrimonio, e a incongruência de casar-se com um pagão. Convencem a jovem; e o Papa São Clemente, sobrinho do cônsul Clemente, impõe e Domitila o santo véu das virgens.

Aureliano, furioso com os seus frustrados amores, consegue de Domiciano que Domitila seja desterrada para a ilha de Pôncia. Parte para a ilha com os seus dois escravos. Aureliano, que renuncia a Domitila, dirige-se também para a ilha, e não podendo conseguir o apoio de Nereu e de Aquiles, por mais promessas que lhes faça, fálos desterrar para Terracina.

Aureliano não desanima na esperança de ganhar Domitila, e prepara um hábil estratagema. Envia, para irem ter com Domitila, duas amigas, Teodora e Eufrosina, que vão casar com Sulpício e Serviliano. Mas Domitila convence Teodora e Eufrosina sobre a excelência da virgindade, e os seus dois pretendentes, Sulpício e Serviliano, renunciam a elas e, inclusive, convertem-se ao cristianismo. Aureliano morre desesperado depois de uma bacanal de duas noites, em que intenta esquecer a sua derrota.

Sulpício e Serviliano derramam o seu sangue por Crista. Nereu e Aquiles são executados também. E as três lindas donzelas unem à flor da sua virgindade a palma do martírio. O amor de Jesus foi mais forte... Eis aqui uma preciosa «Florinha».