«Olhai, irmãos, a quem Deus chamou, diz São Paulo aos Coríntios. Pois não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres». O mesmo podemos dizer dos Apóstolos. Jesus não os escolheu entre os ricos, os nobres ou os sábios. Os seus Apóstolos saíram do povo humilde, de pescadores ignorantes, de pobres proletários da Galileia.
Assim era Tomé, o gêmeo, galileu, pobre e simples, um dos doze que teve a sorte de viver com o Rabi de Nazaré, como viviam os discípulos com os mestres: estando com Ele, dia e noite, escutando-o de perto, comendo com Ele e dormindo na mesma casa. E se alguma vez um mestre dormia em sala diferente, os discípulos costumavam abrir um buraco na parede para tentar imitá-lo, inclusive quando dormia.
Mas se os doze eram rudes, parece que Tomé os superava a todos. No entanto na Última Ceia, depois de durante três anos ouvir o Mestre, confessa que não entende nada do que Jesus diz. «Mestre, exclama, não sabemos para onde vais, nem sabemos o caminho».
Apesar de tudo, Tomé era um homem de caráter. Embora sem o compreender, seguia a Jesus cegamente, com entusiasmo. Parece o mais entusiasta dos Apóstolos. Quando Jesus decide ir a Jerusalém, apesar dos perigos, Tomé resolve as dúvidas dos Apóstolos: «Vamos também nós para morrer com Ele».
No entanto, este gesto magnífico desaparece diante do «escândalo da cruz». Na noite do Getsémani fugiu, como os outros, e na tarde de Sexta-feira Santa, acabaram por se desvanecer todas as esperanças.
Quando na tarde de Páscoa Jesus aparece aos Apóstolos fechados no Cenáculo, Tomé não se encontra entre eles. Parecia-lhe que tudo tinha terminado. Por isso quando os seus companheiros lhe comunicam que tinham visto o Senhor, Tomé, o céptico, não quer deixar-se enganar novamente. E responde-lhes: «Se não vir nas suas mãos as marcas dos cravos, e não meter o meu dedo no lugar dos cravos e a minha mão na chaga do seu lado, não acreditarei»
Era um homem prático, sem fantasias. Quer garantias. E não lhe basta ver, porque também às vezes há ilusões ópticas. Quer tocar, apalpar, para se convencer. Mas nada acontece por casualidade. A atitude de Tomé, diz um Santo Padre, a sua incredulidade, foi mais proveitosa para nós do que a fé de Madalena.
Oito dias depois volta Jesus a aparecer aos Apóstolos. Tomé desta vez estava com eles. - «Mete aqui o teu dedo e olha para as minhas mãos, diz-lhe Jesus. Estende tua mão e meta no meu lado, e não sejas incrédulo, mas crente». -Tomé, rendido, exclama:
«Meu Senhor e meu Deus!». Jesus compraz-se com esta confissão, mas acrescenta: - «Porque me viste, Tomé, acreditaste. Felizes os que sem verem acreditaram». Belas palavras para os futuros crentes.
Tomé, com a impetuosidade do seu caráter, quis compensar aquela dúvida com uma entrega total ao apostolado. Os Santos Pa¬dres mostram-no-lo a pregar de nação em nação, até chegar ao deserto índico. Ali havia uma coluna com esta inscrição que se referia ao grande guerreiro macedónico: «Até aqui chegou Alexandre, filho de Júpiter». Tomé, discípulo de Jesus, chegou mais longe, seguramente até Calcutá, até ao Ganges e Ceiião. Camões e Marco Polo falam-nos da morte de Tomé, de uma cidade dedicada ao seu nome e das pessoas que acudiam a visitar o seu sepulcro.
Segundo uma antiga tradição, quando morreu a Virgem Maria, São João teria convocado os outros Apóstolos. Chegaram todos, exceto Tomé, outra vez o atrasado. Mas tudo se arranjaria, pois ele assistiria à Assunção da mesma Senhora aos céus.
Oração
Ó Apóstolo São Tomé,
experimentaste o desejo de querer morrer com Jesus,
sentiste a dificuldade de não conhecer o Caminho,
e viveste na incerteza e na obscuridade da dúvida, no dia de Páscoa.
Na alegria do encontro com Jesus Ressuscitado,
na comoção da fé reencontrada, num ímpeto de terno amor, exclamaste:
"Meu Senhor e meu Deus!"
O Espírito Santo, no dia de Pentecostes,
transformou-te num corajoso missionário de Cristo,
incansável peregrino do mundo, até aos extremos confins da terra.
Protege a tua Igreja, a mim e à minha família
e faz com que todos encontrem o Caminho, a Paz e a Alegria
para anunciar, com paixão e abertamente, que Jesus Cristo
é o único Senhor e Salvador do Mundo,
ontem, hoje e sempre.
Amém.