18 Fev 2019
Testamento Espiritual de Santa Bernardete

Pela miséria do meu pai e da minha mãe, pela ruína do moinho, por esta cruz da desgraça, meu Deus, muito obrigada! Pela minha boca a mais, que tinham de sustentar, pelas crianças que vigiava, pelo rebanho que guardava, muito obtigada! Muito obrigada, ó meu Deus, pelo Procurador, pelo comissário, pelos guardas, pelas palavras duras do Padre Peyramale!

Pelos dias em que me aparecestes, e por aqueles em que não me aparecestes, só no Céu vos poderei agradecer suficientemente, Virgem Maria. Mas pelas bofetadas recebidas, pelo escárnio, pelos ultrajes, pelos que me tomaram por doida, pelos que me julgaram mentirosa, pelos que me consideram interesseira, obrigada, Mãe do Céu!

Pela ortografia que nunca aprendi, pela memória que nunca tive, pela minha ignorância e estupidez, muito obrigada!
Obrigada, muito obrigada, porque se tivesse havido na terra uma menina mais ignorante e mais parva que eu, tê-la-íeis, Vós, escolhido.

Pela minha mãe falecida longe de mim, pela mágoa que senti quando o meu pai, em vez de estender os braços para a sua querida Bernardete, me chamou Irmã Maria Bernarda, muito obrigada, Jesus! Muito Obrigada por teres enchido de amarguras o coração tão terno que me destes!
Muito obrigada por ser a privilegiada das repreensões de quem as Irmãs diziam: Que sorte não ser eu Bernardete.

Pelo corpo fraco que me destes, por esta doença de fogo e fumo, pela minha carne gangrenada, pelos meus ossos cariados, pelas Irmãs, pela febre, pelas dores surdas mas fortes, muito obrigada, meu Deus! E pela alma que me destes, pelo deserto de aridez interior, pela vossa noite e pelas vossas iluminações, pelos vossos silêncios e pelas vossas claridades, por tudo, por Vós, ausente ou presente, muito obrigada, Jesus! Irmã Maria Bernarda Soubirous.